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21 abril 2006


(MEU MESMO) 1º DIA DO ANO NOVO
(Rose Amaral)


Os fatos que passo a relatar são verídicos e confesso que só acreditei porque aconteceram comigo. Nada sério, apenas a vida e sua graça. Fortemente, não gosto de fazer qualquer voto para o Ano Novo, mas este ano me veio de fazer um: AGRADECER, SEMPRE, TUDO! Assim, o fiz.

Bom, acordei no primeiro dia de janeiro de 2005, às 8 horas da manhã, com o barulho de uma monstruosa escavadeira quebrando furiosamente o asfalto, em frente meu apartamento. Como? Tudo seria previsível, mas trabalho da Prefeitura em pleno 01/01, às 8:00 da manhã? E em frente minha casa?

Pensei, imediatamente, em reformular meu voto de agradecimento constante e incondicional. Porque foi aí que me dei conta das implicações de minha decisão; fiquei me imaginando em meio a uma tragédia, a uma catástrofe, com as mãozinhas levantadas, balançando de lá para cá e de cá para lá, cantando “Obrigada, Senhor!”.Achei ridículo!

Assim que a brutal escavadeira deu uma trégua em seu ensurdecedor barulho, ouvi outro ruído muito estranho vindo da área de serviço. Corri até lá e presenciei minha máquina de lavar roupas surtando. Não, aquilo mais parecia um ataque epilético; ela se debatendo, tremia do botão do painel até os pés de apoio, girando pela área de serviço. De repente, a tampa explodiu para cima e o restante para baixo. Deduzi, rapidamente, que seria melhor acudi-la e pequei um copo para salvá-la da espuma. Na primeira retirada, bati com o copo no tanque e ele se espatifou...

Lembrei:

-“Obrigada, Senhor!”.

Constatei que minha máquina de lavar havia sofrido um acidente terrível, talvez incalculável.

-“Obrigada, Senhor!”.

Voltei ao quarto, ainda em choque pelo que vi, quando me deparei com o meu telefone completamente bêbado. Eu explico: um ou dois dias antes eu havia derrubado um copo, inteirinho, de cerveja em cima dele (não por desavenças, mas por descuido). Daí para frente ele ficou bêbado e fora de qualquer área, mas aos trancos e algumas pancadinhas ele funcionava precariamente.

Eu sabia que devia fazer alguma coisa e fiz. Primeiro raciocinei sobre o telefone alcoolizado e conclui que se ele havia resistido ao álcool, que mal faria uma aguinha? Não pensei duas vezes (alias, taí coisa que não gosto de fazer) e busquei todo o material, abri o telefone (confesso que quase não aguentei o bafo), retirei com cuidado as pecinhas móveis e as coloquei em uma posição em que as identificaria com facilidade na hora da reposição.

Com toda cautela, iniciei os procedimentos; mas no afã de fazer um trabalho bem feito e não deixar sequelas acabei por chutá-las para fora do local de identificação.

-“Obrigada, Senhor!”.

Mas, o carinho no trato e cuidados com meu telefone foi tanto que pensei em lhe dar um banho de sal grosso no final. Mas, não o fiz. Depois da execução quase cirúrgica, olhei para a cama e me parabenizei pela competência na escolha do material utilizado: chave de ofendas, alicate de unhas, cotonetes, fio dental, tesourinha e claro, água. Terminada a limpeza interna, senti algo novo: percebi, claramente, que nunca havia estado tão próxima do humano de uma máquina. Senti por pouco que não éramos um. Enxuguei-o com amor e coloquei-o para secar tomando sol. Claro, todos dizem que sol de 6:00 às 10:00 é ótimo e eu estava dentro do prazo. Bom, não sei se ele funcionará, mas que é o telefone mais limpo da cidade, eu garanto!

Já no final da manhã do dia 1º, depois de uma máquina acidentada, de um telefone bêbado, de uma escavadeira vinda do além, ponderei que estava iniciando o ano com toda a oportunidade de que precisava para garantir o exercício do meu voto para 2005.

-“Obrigada, Senhor!”.

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