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26 abril 2008


LINGUAGEM
(res + pers + ins = ex: istência)
(Alexandre Campinas)


Suas mãos postas, súplices:

"Desiste" !

Bobagem. Ajoelho e lavo (as suas).


25 abril 2008

OS DENTES NÃO VOLTAM
(Uma velha canção pop'n'roll)


(Alexandre Campinas)





Por que aquele maldito dente tinha que quebrar apenas com uma mordida de pão francês ? Não. Não era na frente, nada que exacerbadamente constrangesse. Mas quebrou. Ficaram apenas cacos relativamente presos na gengiva. Já não é o primeiro. Filosofo na frente do espelho: da mesma forma que vêm, vão-se. Aos poucos. A escovação ? Vai bem. Nada luxuosa, mas nem um pouco omissa.


Ao virem, causam febre. Vi minha febre no espelho à partida. Tava lá. Estampada como manchete da primeira. Como link de propaganda: Browse it, Browse it !, gritava, vociferava. Ardia, acima de tudo. O espelho mostrou tudo. Alice. Pobres, todos, alices. E fui apenas olhar um dente moribundo... É meu Aleph particular, um tanto revisitado, outro tanto curtido. Entretanto jamais mediado como agora. A escovação ? Vai bem. Nada luxuosa, mas nem um pouco omissa.


Houve de ser o espelho quem mo avisasse. E foi bruto ! Apontou o grisalho de tudo, os pequenos sinais e pintas que só percebia transmudarem-se em marcas senis na face de meu pai. Agora tudo parecia queimar-me as ilusões de uma adolescência que já não é. Febre. Há cigarro demais, há fundamento demais para pouca construção. O espelho. Tudo emerge de mim voluptuosamente. Sonhos, planos, o que fiz e o que não. O que pretendo e o que não entendo. Tudo, agora, faz sentido. As chispas fraternas que tanto abalaram, o olhar alheio, perscrutador, inquisitório. Cobranças infindáveis, inquietação irritante. Sou uma falha-que-anda. Um tropeço divino. Um extemporâneo que julga-se atemporal. A escovação ? Vai bem. Nada luxuosa, mas nem um pouco omissa.

O espelho. Guarda-metas de qualquer tentativa de projeção mais funda do que é permitido. Mostra o quão inadaptável sou. Ok, ok... Sem reclamações desta vez. E é ele quem determina. Pauta. Jogo nele o Sá, o Guarabira, o Beto, o Barão, o Taiguara, o Legião, o Lula, o Montenegro, o Noel, O Capital . Ele não reflete. Ou, por outra, belchioriza a resposta: “viver é melhor que sonhar”. A escovação ? Vai bem. Nada luxuosa, mas nem um pouco omissa.


Tudo está maus. "Então foi tudo sonho ?", tento argumentar. Ele responde: “Piegas”. Não. Não são meus, aqueles olhos. Nada ali sou eu. E tudo sou: junto da gengiva, sobretudo, cacos. A escovação ? Vai bem. Nada luxuosa, mas nem um pouco omissa.


O adágio apregoa, e eu tô ligado nele, só nele. Enquanto há vida, há esperança. Do pc, lá na sala, baixinho, porque madrugada, um arquivo mp3 implora, vindo lá do fundo da adolescência: é o Celso quem pede “aumenta que isso aí é rock'n'roll”. E já é um indício. Quase um grito libertário: um suicídio para tudo que é, em direção ao que – ainda – pode ser.


Na seqüência da playlist uma confirmação de que ainda não sou aquele do espelho (embora, desgraçadamente, ele se pareça comigo; e eu, tanto com ele). Uma confirmação de que em mim tudo deverá continuar como é (apesar dos dentes que não voltam) e de que não sou (o único) anjo torto. A escovação ? Vai bem. Nada luxuosa, mas nem um pouco omissa.


Conta aí, Lô, o que o Márcio escreveu:


“Sinais de bem desejo de cais
Pequenos fragmentos de luz
Falar da cor dos temporais
De céu azul das flores de abril
Pensar além do bem e do mal
Lembrar de coisas que ninguém viu
O mundo lá sempre a rodar
E em cima dele tudo vale
Quem sabe isso quer dizer amor
Estrada de fazer o sonho acontecer”



Canta junto aí !


22 abril 2008


MISSA DA TERRA SEM-MALES
(D. Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra)


Abertura

Em nome do Pai de todos os Povos
Maíra de tudo,
excelso Tupã.
Em nome do Filho,
Que a todos os homens
nos faz ser irmãos,

no sangue mesclado
com todos os sangues,

em nome da Aliança da Libertação.

Em nome da Luz de toda Cultura,
Em nome do amor
que está em todo amor.


Em nome da Terra-sem-males,
perdida no lucro, ganhada na dor,

em nome da Morte vencida,
em nome da Vida,

cantamos Senhor!


Eu era a Terra livre,
eu era a Água limpa,

eu era o Vento puro,

fecundos de abundância,

repletos de cantigas.
E nós te dividimos
em regras
e em fronteiras.

A golpes de ganância retalhamos a Terra,
invadimos as roças
invadimos as tabas,
invadimos o homem.
Eu fazia um caminho
a cada vez que passava.


Era a Terra o caminho
,
o caminho era o homem.


Assista a uma cena AQUI

Leia AQUI sobre a questão indígena:
sem máscaras


(Alexandre Campinas participou
da montagem da Missa da Terra Sem-Males,
no Rio de Janeiro, em 1984,
Grupo K Entre Nós,
direção de Mário Sérgio Medeiros)



Úteros de Carpete
(Kinho Vaz)



O dia nasce nos golpes sucessivos do badalo. Um som
que se entranha pelos poros estimulando uma leve
consciência. Os olhos permanecem fechados. O corpo
entorpecido pelo resto de sono. As juntas resistem
a qualquer movimento. Reclamam. Têm vozes
que berram na mente um grito de socorro.
Fazem muito barulho. Os ouvidos despertam.
Apuram o mundo. Sintonizam canais em
busca de um som. Reconhecem o sino do mosteiro.
Que bate firme. Que bate fundo. Que bate
estaca. Crava na percepção o limiar da realidade.
Anuncia o tempo em seu ritmo imperativo.
Os olhos se opõem. Reagem. Apertam
as pálpebras. Entrelaçam os cílios como
uma rede de proteção. Última linha de defesa.
Pronta para impedir que nada saia, que nada entre.
Barreira do limbo. O corpo
todo se esforça para reabrir o portal dos
sonhos. Submergir novamente na paz oceânica.
Se entregar à sensação do abandono pleno.
Vagar no vácuo. Ignorar a vida. Mas é tarde.
Não há caminho de volta.


As buzinas já avisam que o sinal abriu. Os motores
já começam a arrotar os soberbos desjejuns.
Os passos apressados surgem como ecos.
Pisam com estrondo num chão que parece
metálico. Propagam o aviso do seu
caminhar em ondas que se multiplicam.
Que se espalham como notícia ruim. É a
horda dos aceitos que chega,
caminhando a sua indiferença. Trazem também
as vozes. Não esta. As outras, que falam de tudo.
Que sorriem. Que xingam. Que cantam.
Que aumentam e diminuem. Que profanam a
vida latente no útero de carpete.
Chegam disparando o sinal de alerta.
Deixam o espírito em estado de vigília. Fazem a
razão se espalhar em picadas miúdas e doloridas.
Surreais como uma chuva de alfinetes.
Fustigam o corpo até que vem um tremor
mais forte. Esse, provocado pelas portas do
comércio subindo com seus disparos de
metralhadora. São as matracas que anunciam
o ritual da purificação.
O momento da maquiagem que disfarça
a cicatriz. Do curativo inútil na
ferida gangrenada.


É o instante que introduz os sons da
desfaçatez. Do barulho da água lançada ao
calçamento. Do chiado agudo das vassouras
esfregando o assoalho do purgatório.
Compondo com o sino do mosteiro o arranjo
de uma ópera-bufa. Uma peça de
paródia, onde baianas sem máculas lavam
as escadarias do templo usando cântaros
de creolina. O cheiro forte invade as
narinas. Queima os pulmões.
Faz os olhos chorarem sem querer,
vertendo privações. A língua pastosa descola do
céu da boca. Desperta insossa e ressecada.
Incapaz de decifrar o sal da lágrima.
O estômago pesa sua inatividade.
Pondera a possibilidade do alimento.
Lembra a urgência da fome. Está tão
contorcido e vazio quanto o saco plástico
que ontem continha a cola de sapateiro.
A química de onde se aspira instantes de paz.
Momentos de ternura com lares, leitos e
leite quente ao deitar. Tudo que
não é real. Nada que se faça tão presente
como o cutucão do cabo da vassoura.
Cócegas nas costelas. Nem tão alto
como o grito de “tá na hora!”.
Beijo de bom dia.


O primeiro pontapé é recebido como
um carinho. Confundido com o delírio do
sonho. Pensa ser a mãe que nunca existiu,
chamando para a escola que nunca
houve. O segundo chute vem mais forte.
Não deixa dúvidas de quem está chamando.
Nesse ponto a vassoura muda de função.
Assume o papel de fórceps. Busca
uma brecha na cápsula de trapo. Vasculha
o interior do casulo como um instrumento de
curetagem. E com precisão cirúrgica se transforma
num tridente. Símbolo do mal.
Começa a atiçar a carne com suas fibras
de piaçaba. Provoca mais dor. É mais um motivo
para acordar. Para desinfetar dali. Para abortar
a tentativa de fugir à realidade.
Para continuar sobrevivendo.

Então se dá a revelação. O mistério da vida
gerada nas ruas. O instante sagrado onde os mundos
se tocam. O útero de carpete se rompe. Dá à luz
o improvável. Expulsa do seu interior um
pequeno ser. Quase humano.
Que apanhou e chorou para nascer. Como
toda gente. Mas que não terá colo, nem seio,
nem berço.

Nem a promessa de voltar a nascer amanhã.



(A árvore da vida indígena - Siegfried Kreutzberg)

Saiba

(Arnaldo Antunes)


Saiba: todo mundo foi neném
Einstein, Freud e Platão também
Hitler, Bush e Sadam Hussein
Quem tem grana e quem não tem

Saiba: todo mundo teve infância
Maomé já foi criança
Arquimedes, Buda, Galileu
e também você e eu

Saiba: todo mundo teve medo
Mesmo que seja segredo
Nietzsche e Simone de Beauvoir
Fernandinho Beira-Mar

Saiba: todo mundo vai morrer
Presidente, general ou rei
Anglo-saxão ou muçulmano
Todo e qualquer ser humano

Saiba: todo mundo teve pai
Quem já foi e quem ainda vai
Lao Tsé Moisés Ramsés Pelé
Ghandi, Mike Tyson, Salomé

Saiba: todo mundo teve mãe
Índios, africanos e alemães
Nero, Che Guevara, Pinochet
e também eu e você


Genial:
para desconstruir o fascismo
de Tropa de Elite.

Veja AQUI.

21 abril 2008

GATA NEGRA DO VALE CENTRAL
(Alexandre Campinas)


Te sinto maçã verde
enquanto a ameixa passeia
nas estrelas do céu
da minha boca.



Um beijo de amora,
orvalhada nas gotas
do baobá imenso,
antecede
paladares profundos:

teu sexo violáceo,
rubro por mim.



06 abril 2008



Socialismo "Crístico"


Este é o espírito da coisa !

Dom Hélder Câmara,


na Missa dos Quilombos,


faz a

INVOCAÇÃO À MARIAMA



Mariama, Nossa Senhora Mãe de Cristo e Mãe dos Homens!

Mariama Mãe dos Homens de todas as raças,

de todas as cores, de Todos os cantos da Terra.
Pede ao teu Filho que esta festa não termine aqui,
a marcha final vai ser linda de viver.

Mas é importante, Mariama, que a Igreja de Teu Filho
não fique em palavra, não fique em aplauso.
O importante é que a CNBB, a Conferencia dos Bispos, embarque de cheio na causa dos negros, como entrou de cheio
na Pastoral da Terra e na Pastoral dos Índios.


Não basta pedir perdão pelos erros de ontem.
É preciso acertar o passo hoje sem ligar ao que disserem.


Claro que dirão, Mariama, que é política,
subversão, que é comunismo.

É Evangelho de Cristo, Mariama.


Mariama, Mãe querida, problema de negro,

acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos.
Com todos os absurdos contra a humanidade,

com todas as injustiças e opressões.

Mariama, que se acabe,

mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas.
O mundo precisa fabricar é Paz.


Basta de injustiças, de uns
sem saber o que fazer com tanta terra
e milhões sem um palmo de terra onde morar.

Basta de uns tendo de vomitar pra poder comer mais
e 50 milhões morrendo de fome num ano só.

Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo
e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.

Mariama, Nossa Senhora, Mãe querida.
Nem precisa ir tão longe como no teu hino.
Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias
e os pobres de mãos cheias.

Nem pobre nem rico.


Nada de escravos de hoje
ser senhor de escravos amanhã. Basta de escravos.

Um mundo sem senhor e sem escravos.

Um mundo de irmãos.

De irmãos não só de nome e de mentira.
De irmãos de verdade,

MARIAMA.