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28 agosto 2006

"...fazer poema, lá na Vila,
é um brinquedo..."
(Palpite Infeliz - Noel Rosa)


O poeta, contista e publicitário Kinho Vaz
é um multi-criador carioca,
legítima cria de Vila Isabel.
Sua poesia gerou filhotes, que são
as caprichadas letras para as músicas
dos amigos compositores.

"Fazer o Quê?", composta em parceria
com Raquel Koehler, ocupa agora
o 1º lugar entre as "10 Mais Ouvidas da Semana"
do site do Clube dos Compositores do Brasil.

27 agosto 2006

Drogaria Granado - Tijuca / RJ - Foto de Giovanni Darienzo



CRÔNICA DO EXÍLIO
(Alexandre Campinas)


Valei-me por suas flechas, São Sebastião do Rio de Janeiro !


Essa cidade minha. Que me corta a alma a cada canção. Saudades que evocam toda a recordação de um tempo feliz. Uma vida feliz. Um passado cidade. De ônibus elétricos no subúrbio e mão firme de mãe na minha mão. Tempo de sonho e esperança, poesia e canção.


“Vamos carioca e sai do teu sono devagar. O dia já vem vindo e o sol já vai raiar.”


Vai raiar em Copacabana, em frente a Constant Ramos onde nos sentávamos meu avô e eu após a visita a colônia de pescadores. Ele a decepar e eviscerar peixes. Ali mesmo, em pleno calçadão. Eu, a sorver vida.


“São Jorge teu padrinho te dê cana pra tomar. Xangô teu pai te dê muitas mulheres para amar.”


Viva o Tom e a Miucha. Viva o poetinha. Viva o suburbano Aldir do Light e dessa deliciosa vida merda da qual eu também faço parte e adoro. Profundamente adoro. Barão de Drumond e Boulevard. Floresta de densa mata dos cantos e pássaros. Paineiras. Uma cascata escondida na curva que descortina a pintura da Lagoa, da Gávea e do campo do Flamengo nos fundos do Jóckei. Ou seria o Jóckei nos fundos do campo do mais querido ? Assim como fosse um quintal com cavalinhos...


Cidade eu sou perdidamente apaixonado por você. Eu sou você, sou meu pranto no Samba do Avião. Sou enlevo na Valsa de uma Cidade, sou cidadão ouvindo Cidade Maravilhosa. Te olho, suburbanamende tímido, do Excelsior e te exploro inteira, do Caju ao Maracanã. Da Central do Brasil ao Encantado, nome lúdico da infância vivida. Cidade que confunde a minha salgada saudade de lágrimas ao teu doce contorno mulher. Tenros seios, montanhas onde mama a minha dor. Boa dor de saber-se dono do que não é. Pipas na Ilha do Governador. Uma santa. Sensual e ondulada Teresa. Uma gente, Ipanema. Uma gente, Vila Valqueire. Iguais. Um povo todo irmão. Todo igual.


Outra ilha e a mais amada fantasia. Um baobá por Maria Gorda, a profunda raiz de Paquetá, inesquecível amor. Eterno amor. Da Ribeira ao Catimbáu, do Iate ao Municipal. Gostosa tatuagem da minha vida. Amada tortura a qual eu, órfão de ti, me submeto mergulhado em prazer e gozo.


Santa, curta, Sofia. Santo Afonso, de pé sobre o adro de seu templo, velando a minha Tijuca querida. Conjunção carnal de ruas, e cinemas que já não o são desembocando na praça de nome de herói sulamericano. Chafariz e ginasta. Café Palheta e longa tênia em tuas carnes.


Desejo de chegar-te de qualquer lugar, rodas baixando sobre a ponte. Renascer a cada toque suave na noturna e iluminada pista do Santos Dumont.

“... dizem que sou démodé, saudosista, blasé, retro... e eu sou ...”

(Os versos que aparecem entre aspas são de músicas de Vinícius de Moraes e também de Aldir Blanc)
CANALHA, UM ELOGIO DE PRIMEIRA
(Alexandre Campinas)

Antônio Carlos Magalhães não gostou
de uma crônica do escritor
e compositor Aldir Blanc,
publicada no JB.

O senador deixou a lógica de lado
e valeu-se - como sempre - da velha
tática do sofisma por ignorância de questão
aliado ao xingamento reles.

Truculento, deselegante e com a usual sutileza de um estouro de manada de aliás no cio, chamou o genial carioca de canalha.

Na impossibilidade do JB (não quis) publicar a crônica-resposta do Aldir, a
comunidade Aldir Blanc no Orkut, e vários blogs de admiradores e companheiros
fazem o desagravo na rede.

Os blogs

Cartas de Hades e Reino de Hades (Mariana Blanc)
São Coisas Nossas
Pentimento e
Buteco do Edu

já publicaram. Agora e a vez do Quintal Literário.

Jogo feito:


"BOLÔ-FEDEX

Leva, meu samba, meu mensageiro, esse recado...


O Sena-Sênior ACM, vulgo Malvadeza, me acusou de ser “um elemento lulista infiltrado” no JB. E concluiu seu arrazoado (?) me chamando de canalha.


Senadô-Skindô, por mais que eu viva nenhum elogio me trará orgulho maior do que ser chamado de canalha por V. Excrescência. Quem lê minha coluna sabe que o pau canta à direita, à esquerda e, claro, no centro, com igual prodigalidade. Espero que a grande famiglia pefelista já tenha providenciado junta médica competente para lubrificar os parafusos do Cacicão. A julgar pelas suas mais recentes declarações, as encrencagens, desculpem, engrenagens, estão precisando de uma lubrificada urgente: ginkgo biloba, piracetan, talvez um viagrinha... O senador, craque em prestidigitação, mais uma vez misturou as bolas: combatividade é muito diferente de baba paranóica escorrendo gravata parlamentável abaixo.


A ojeriza é mútua. Estou farto de maquiavelhos de fraldão deitando regras. Toda essa mixórdia envolvendo valeriodutos, mensaleiros, sanguessugas e saúvas, começa com políticos da sua estirpe. O mecanismo é manjado. Se as denúncias favorecerem meu partido, palmas, vamos apurar. Agora, se a canoa virar, o denunciante passa a bandido e fim de papo, vai ser preciso buscar a propina em outro guichê. A máscara-de-pau que descrevo acima é suprapartidária. Os que não a exibem são as exceções que confirmam as regras vigentes. Quando as regras rompem os diques e escorrem periferia abaixo, não há Lembo Pétala-Macia que evite derramamento de sangue - na maioria dos casos, inocente. Mas o meu negócio não é discurso, é galhofa. Já que falei em bolas misturadas... Dizem que um velho político pefelista, preocupado com as más performances nos palanques, procurou um médico, antigo cupincha de castelo e carteado.


- Tô com um problema, num sabe? Bem na... plataforma de lançamento.


- Hein?


- Pois é. Gases. Uma coisa impressionante. Além das explosões e dos odores, tem hora que chego a levitar. Uma assessora já foi arremessada contra meu contador de caixa 2. Estão hospitalizados. Isso não pode continuar.


O amigo explicou que aquela não era a especialidade dele, mas que pensaria no assunto, conversaria com colegas renomados, faria até pesquisa na internet.


No comício seguinte, o esculápio apareceu com um vidro misterioso, sem rótulo, e entregou ao político:


- É pra...


Mas o tumulto, o puxa-saquismo, os vivas, a euforia bem remunerada impediram a necessária e urgente troca de informações. Cerca de meia hora depois, o SSJE (Secretário para Superfaturamento Junto a Empreiteiras) agarrou o ilustre médico pelo paletó.


- Corre que o Chefe tá pegando fogo nas... nas partes baixas.


- O quê?!?


O socorrista encontrou o parlamentável feito um bebê, sem calças, com uma brutal reação alérgica na proa da região pélvica.


- Mas... Eu mandei você beber a poção e você esfregou nos...


- No calor da luta política, eu confundi peido público com pêlo púbico."

Aldir Blanc

17 agosto 2006

(Tentando o Impossível - René Magritte)




GUERRA DE MUDOS
(Kinho Vaz)

Eu vi a chama do prazer

Ardendo nos seus olhos.

Vi lábios selando desejos,

Beijos que não se pronunciam.

Vi mãos aflitas, contorcidas,

Combatendo os dedos na ansiedade

Como as fileiras de Atenas,

Cerrando ódio aos heróis de Esparta.



Vi tudo isso

E não dei um só passo,

Senão aquele que me trouxe de volta

À realidade.