Sign by Dealighted - Coupons and Deals

27 dezembro 2007



O instante é memória
Só se pensa quando passa
E envelhece na vidraça
Olhando o seu amor amar

Entradas que se abrem
Cores que se perdem no branco
Veias que penetram a pele
Em uma geografia perfeita do tempo

Não se procura a fruta mais bonita
A que está ao alcance já satisfaz
E a vida, com seu complexo labirinto
Deixa bilhetes em paredes que cismo em passar

As grafias aceleram os ventos da tempestade
Os retratos encharcam emoções em nossas janelas
A saudade entra como um mal-súbito
Socando o peito com batidas secas

E assim, criam rios na cara do presente
Que em um simples encontro com o passado
Perde a noção daquilo que já não se tem
Do que já não volta

De tudo aquilo que a vida já viveu.


(Ouça aqui, Oração ao Tempo, com Caetano Veloso)


19 dezembro 2007

supernova bossa
(Denner Campolina)



no horizonte de eventos singularidades

procuro o meu amor no hiperespaço...não linear

e na matéria exótica me vejo tenso

desconhecendo o feitiço do tempo...meu amor

sou corda vibro no ar

frequencia com efeito dopler...dependo do referencial!

a supernova consciencia unificada

se expande em ondas de choque...não linear

vou encontrar o meu amor no espaço tempo

me preocupar com o paradoxo do meu próprio encontro...dimensional

quem é que vai completar?

e raio gama irradiar

....a minha antimatéria...

09 dezembro 2007

"O violino de Ingres"
Man Ray - Fotógrafo surrealista



FUGA E ADÁGIO
(Kinho Vaz)

Era noite escura quando a perseguição se deu. Eu arfando na frente, fugindo das garras e dos dentes que me perseguiam. Enveredei pela floresta com todos os sentidos em alerta, quebrando galhos secos e fugindo sem apagar pistas. Correndo e querendo ser alcançado com a mesma força, em total contradição. O hálito doce que me buscava ignorava distância e tempo. Mais cedo ou mais tarde estaria misturado ao meu, me submetendo à voraz, felina e definitiva mordida de abate. Senti-me perdido, presa fácil. Animal longe do bando, em território alheio, espreitando desejos que não podiam me pertencer. A mente roçava na superfície áspera das lembranças, enquanto se esgueirava pelo mato cerrado da realidade. Os lanhos fundos e doloridos na consciência foram inevitáveis. Quanto mais eu corria, mais perto chegava do fim. Parecia estar imitando os sentimentos, que se postavam em círculos entre o querer e o não querer, entre o lutar e o se entregar, entre o certo e o errado. Não havia saída na densa noite sem caminhos. Então eu parei de correr e esperei a hora da luta, fortalecendo minhas esperanças na crença de que a melhor sepultura para um guerreiro é o ventre do inimigo. Aos poucos comecei a sentir no vento o perfume do meu destino. Doce, delicado e inebriante como o aroma de uma fruta exótica.

Sua chegada me encontrou passivo, entregue. Mostrou-se sem pressa de concluir sua conquista. Rodeou-me lentamente, olhos fixos nos meus, diminuindo meu espaço em voltas cada vez menores, cada vez mais próximas, cada vez mais intransponíveis. Essa proximidade me enfeitiçou, me fez acreditar, ser eu, um banquete digno de tal cerimônia. Então percebi que já não poderia ir a lugar algum. Estava preso, cercado, dominado. Pronto para ser devorado em ritual premeditado pelos instintos viscerais que regem a relação entre caça e caçador. Fechei os olhos e abri os braços, preparado para o bote fatal, entregue nas mãos de um destino cruel, mas meigo como um sonho bom. Meu corpo entorpeceu à proximidade do seu calor. O respirar ansioso invadiu o meu, fazendo meu coração pulsar em compassos impróprios. Passeou sua língua por todos os meus poros, apetecendo o paladar, apurando os sentidos na visão da refeição servida. Invadiu meus sonhos com um olhar carregado de promessas de menina, me fazendo sentir que aquela era a hora certa para deixar de existir. Só então começou a me devorar, calma e lentamente. Tirou-me os olhos, os ouvidos e a língua com tamanha destreza, que eu mal percebi que os perdia. Passou então a se ocupar do meu juízo, vasculhando, invadindo, dominando a intimidade dos meus pensamentos. Até que finalmente chegou ao meu coração, fazendo um estrago delicioso. Daí pra frente, já não pude mais ver, ouvir, falar, pensar e nem sentir nada que não fosse voltado para aquela dominação.

A selva me fez prisioneiro, a curiosidade me fez presa e a fraqueza me fez escravo dessa força irresistível, que desconhece a carne, o tempo e a própria razão.