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20 fevereiro 2009

Crucificado no carnaval

(Mão Branca)



Li no jornal que um jovem foi encontrado morto preso numa cerca de arame farpado na mesma posição que Cristo na cruz.

A polícia não demorou para achar o corpo.

Decidi escapulir da cidade durante o carnaval. Detesto samba. Mesmo adorando as bundas desnudas e oferecidas dessa época, escolhi recolher-me junto à natureza. Quando saia pela estrada sul, notei uma briga no meio do mato, ao lado de um carro parado. Não queria me meter, mas sei do que sou capaz e decidi salvar o alguém que estivesse em perigo.

- Fique aqui no carro, mulher. - Disse à minha companhia. Peguei a pistola debaixo do meu banco e sai cortando o mato.

Ouvi gritos. Um homem mandava outro entrar no porta-malas. Gritava também a um terceiro para que retirasse gasolina do tanque. Eles iriam queimar o prisioneiro.

- Por favor, moço, pode levar o carro. Pode levar minha carteira. Eu não conto nada para ninguém. - Implorava o prisioneiro, um jovem de uns 21 anos. Cabelo bem aparado, roupas sóbrias, na camisa a inscrição "exército de Jesus".

- Calaboca. Você vai morrer! - Virou-se ao comparsa. - Cadê a merda da gasolina?

- Tô puxando, porra! - Ele sugava uma mangueira enfiada no tanque. Engoliu um grande gole e engasgou.

- Entra logo nesse porta-mala. Anda! - O seqüestrador tinha um revólver 32 na mão. Empurrava sua ponta na barriga do prisioneiro.

- Por favor, moço, eu sou crente. Não faço mal a ninguém. Não vou contar nada.

- Claro que vai, filho da puta. Vocês, crentes, são mais safados que qualquer bandido.

- Não, moço, não faça isso.

- Se eu te deixar vivo, você vai me dedar.

- Não, moço, não vou.

- Calaboca! - O seqüestrador deu uma coronhada no crente. Ele se calou mas ainda não queria entrar no porta-malas.

O outro bandido apareceu com um saco plástico cheio de gasolina.

- Por favor, eu faço o que você quiser. Eu chupo seu pau!

- Sai fora, viado. Vai morrer mesmo, ainda mais porque é viado. Crente e viado. - Deu uns tapas no crente.

Não interrompi a luta pois esperava o melhor momento para meu ataque.

- Se não entrar no porta-malas vai levar bala aqui mesmo. - Apontou a arma para o crente. Eu não conseguia ver se o outro bandido também estava armado. Tive que agir senão o crente morreria.

Atirei em cheio no peito do bandido. Ele desmontou feito marionete sem os arames. O crente gritou de medo. O outro bandido me viu saindo do mato.

- Se quer viver, fique parado. - Eu disse ao bandido.

O crente pegou a arma do morto e a apontou para o outro bandido.

- Larga essa merda. - Falei. - Você não sabe mexer com isso.

- Eles iam me matar.

- Larga logo isso. - Gritei.

- Não. Eu vou matar esse cara!

Se o crente atirasse seria assassinato pois o bandido já estava dominado. Matei o outro para salvar a vida do crente, num momento decisivo.

- Solta essa arma! Você não pode fazer isso! - Gritei.

O crente, com olhos alucinados, apontou a arma para mim. Empurrei o revólver e levantei a ponta. O tiro foi para cima. O cano queimou minha mão.

- Seu merda idiota... - O outro bandido puxou um revólver de baixo da camisa e me apontou. Fuzilei-o com um tiro na testa.

O 32 soltou-se da minha mão e o crente olhou o novo morto.

- Você matou os dois. - Disse-me.

- Larga essa arma, cara. Você não tá bem.

- Você matou os dois. - Repetiu. - Você cometeu um pecado.

- Foi para te salvar. Larga a arma!

- Você cometeu um pecado. Você vai pro inferno!

Nem argumentei mais ao ver a loucura em seus olhos. O crente apontou novamente a arma para mim. Eu podia desarmá-lo num instante, mas resolvi dar a ele a mesma chance que ele próprio deu ao segundo bandido. Acertei o tiro em seu coração.

Busquei meu carro na estrada. Recolhi as armas e os corpos dos bandidos. Eu os desovaria em algum lugar distante dali. Peguei o corpo do crente e conferi meu disparo. A bala o havia atravessado. Sem preocupações com balística. Arrumei tudo ao redor e fui embora.

- Por que você colocou o crente de braços abertos e pernas juntas na cerca de arame farpado? - Quis saber minha companhia.

- Para ficar igual a Cristo na cruz. - Ela me olhou inquisitiva. - Ele era crente, não era? Deve ter gostado. Quem sabe assim não tem alguma redenção lá onde estiver.

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