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30 novembro 2010

AMOR, TEMPO E UMA METALINGUAGEM DANADA DE COSTUREIRA

(Alexandre Campinas)


...Quer ir para Minas.

Minas não há mais...”

(E Agora José – Carlos Drumond de Andrade)


Achei ontem um pedaço de papel. Uma escrita dessas que vulgarizei por todos os cantos e tempos. Com geniais “insights” que eram condenados ao mofo eterno de gavetas profundas. Falava de um amor quinzanista, já não me lembro se Elisa ou Constância. Já não me lembro se escrevi como causa ou conseqüência. Ou para fugir. Ou para achar. Quem sabe prever ?


Em quatro ou cinco linhas meus garranchos mal se arranjavam. Sem sentido, nem nexo. Mal escrito. A utilidade dessas notas, disso lembro-me bem, era a aplicação imediata (em dois ou três dias) de impressões intertextuais que bem cairiam em uma poesia. Eram medíocres, porém eficazes. Eram as minhas armas e, no entanto, exatamente esta ficou para trás. Certeza absoluta de que ficou, afinal nunca namorei ou sequer bolinei (não se ria, era assim) Elisa ou Constância. Aliás, queria ambas (Constância tinha uma bunda...) como namoradas eternas. Voa-voando ao meu redor como os passarinhos do Rubem Braga.


Tempus fugit. Um tempo comezinho, ordinário. Tempo de sonhos. Tempo de amores tão profundos quanto voláteis. Paradoxais: vividos tão intensa quanto circunstancialmente. Eram muitos os amores, afinal a minha umbilical indústria poética tinha que prosperar, havia uma finalidade (e eu sequer imaginava que a isso chamava-se – nos meios científicos – de instinto de preservação da espécie).



Elisa era inteligente, seus olhos faiscavam quando me ensinava sobre a resistência contida e escondida sob o metafórico romantismo das músicas de protesto. Eu escutava Elisa olhando para a bunda de Constância. Deliciosa dúvida.


Minto. Descaradamente.


Sim, é verdade, o tal garatujo existe, mas Elisa ou Constância nunca tiveram vida real. Bundas e inteligências sim (que adoro ambas sofregamente). Talvez Elisa e Constância sejam o estímulo para que hoje eu rememore o que tudo significava, ou melhor, o peso dessa significado. Das linhas, do papel. Um pardacento papel de pão (ou seria de sonhos ?) que espicho... espicho... em frente a tela do meu PC, buscando cronicar o poema que ficou no escaninho da memória com vontade de ter sido. Resgate do amor necessário, do texto urgente. Reequipamento de minha armada.


FIM


PS. Casei com Elvira, uma toupeira. Seca como uma tábua.

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