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19 fevereiro 2010

POLILÍNGÜE

(Alexandre Campinas)


Minha língua pátria é presa

cercada de sanções, nações

corruptas e corruptoras.


Minha língua presa anseia a solta,

livre de imposições,

ágil e motora.


Minha língua solta é erótica:

espasmos após tensões.

Flerta, provocadora.


Minha língua erótica é ferina.

Cospe imaginações

E alguém ora: antiquelíngua fecundadora.


Minha língua ferina é frouxa.

Fala de arrebatações,

da vida viva e aterradora.


Minha língua frouxa se come

com batata, à portuguesa e com tesão;

com boca degustadora.


Minha língua multisabor é sempre suja

de violência e de paixão

entrega-se à outra, devoradora.


Minha língua suja disfarça-se em pê:

pêquer pêô pêcéu, pêchão.

É língua lúdica, voadora.


Minha língua do pê é feita de trapo,

que se esconde com exatidão

p’ra tocar, redentora.


Minha língua de trapo é língua de sogra:

faz festa, conselho e diversão.

Toca onde não se quer, desafiadora.


Minha língua é a língua do cão:

baba e lambe e late sem compaixão,

língua cachorra.


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