LEI DO VENTRE LIVRE (1871)
LEI DO SEXAGENÁRIO (1885)
Morto, sim; escravo, não !
Olha palma, palma, palma...
Olha pé, pé, pé...
Roda, roda, roda, menina
Que veio lá da Guiné
Mas existe...
"Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia"
Assim gritou a fúria do poeta
Com a dor do negro escravo que tanto sofria...
E hoje, relembrando Castro Alves
O povo desce sambando e cruza os mares
E um afro canto banto nos devolve...
A luta que nasceu com Zumbi dos Palmares
Oiá, Zumbi... bravo irmão
Deste a própria vida para não trair
Aqueles que lá no Quilombo
Palmaram teus ombros
De um congo fiel
Morto sim! Escravo não!
Canta tua memória lá da Chácara do Céu
Que a voz operária é a do Borel
Olha a palma, palma, palma...
Olha pé, pé, pé...
Roda, roda, roda, menina
Que veio lá da Guiné
Mas existe...
(Levante do Borel - Taiguara
vide mais abaixo)
Dona Ivone Lara: rainha !
(Tragédia no mar)
(Castro Alves)
(...) Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares! (...)
*
2008.
Uma escola municipal da periferia
de Belo Horizonte programa excursão
de seus alunos (entre 6 e 14 anos) para um
shopping center, classe AAA, da cidade,
a fim de assistir um filme.
Pais e responsáveis pagam - muitas vezes
com moedas contadas (a maioria com valores entre
R$ 0,05 e R$ 0,50) - à custa de muito sacrifício.
O valor de R$ 5,00 inclui o ingresso
e um pequeno lanche.
No shopping center, classe AAA,
uma via de acesso especial foi preparada
para receber as crianças mulatas, mestiças,
negras, todas lindas, da cor do Brasil.
A via de acesso não possibilita
nenhum contato das crianças
com o interior do shopping center, classe AAA,
e tampouco com seus usuais
freqüentadores, classe AAA.
Com a palavra, TAIGUARA.

É que lá, no shopping center,
classe AAA,
não é lugar de Kizomba.
É claro !
Kizomba está além da classe AAA.
A Kizomba, a festa do povo negro
que resiste à escravidão, e exalta
a vida e a liberdade,
significa congregação, confraternização.
A etimologia de confraternização,
remete a frater. Do latim, irmão.
Somando-se ao radical, o prefixo e sufixo
que formam a palavra,
teremos a livre interpretação de
REUNIÃO DE IRMÃOS.
Como o shopping center foi feito
apenas para a classe AAA,
tal espaço de consumo irreal
e divertimento duvidoso, infelizmente,
passa ao largo da cultura inicial
(berço de todos os irmãos da raça humana,
que independe da cor da pele)
que, por tão generosa,
vai do Alfa ao Ômega.
Como seria maravilhoso
se a classe AAA soubesse ler.
Se soubesse apreender significados
antes de impor significantes.
Zumbi: valeu !
Kizomba, a festa da raça
(Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila)
Valeu Zumbi
O grito forte dos Palmares
Que correu terras céus e mares
Influenciando a Abolição
Zumbi, valeu
Hoje a Vila é Kizomba
É batuque, canto e dança
Jongo e Maracatu
Vem menininha pra dançar o Caxambu
Vem menininha pra dançar o Caxambu
Ô ô Nêga Mina
Anastácia não se deixou escravizar
Ô ô Clementina
O pagode é o partido popular
O sarcedote ergue a taça
Convocando toda a massa
Nesse evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção
Esta Kizomba é nossa constituição
Esta Kizomba é nossa constituição
Que magia
Reza, ajeum e Orixás
Tem a força da Cultura
Tem a arte e a bravura
E um bom jogo de cintura
Faz valer seus ideais
E a beleza pura dos seus rituais
Vem a Lua de Luanda
Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o Apartheid se destrua
Valeu, Valeu Zumbi

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