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28 agosto 2008

O Deus da Raça
(Alexandre Campinas)

Existiu um tempo em que eu era menino. Existiu um tempo de tardes abençoadas de domingo quando tomávamos a rampa de baixo para sair em cima. Quem conhece, sabe o que é. O calor. Atrás do gol. Ali. Bem ali. Duas horas antes da missa. Da nossa missa. Liturgia igual. Senta, levanta, em-nome-do-pai, hosanas, vestes sagradas. O gol. A consagração: Corpo e sangue. Irmãos, saudemo-nos uns aos outros. O apito final, vamos em paz.


Sim, íamos em paz. Íamos cantando pela rua Barão de Mesquita, impregnados daquele espírito divino que agora habitava em nós. Uma certeza: no próximo domingo haveria novamente a missa. E levantaríamos e sentaríamos e ajoelharíamos. Nós tínhamos uma religião. Éramos crentes devotos daquela mensagem que enchia nossos corações com o júbilo sagrado de um amor inexplicável. O sentimento religioso não se explica. Tem-se fé. Pronto.


Acompanhávamos as entrevistas do catequista, saudoso Coutinho, durante a semana. Ele está machucado. Joga ? Não joga ? Deus está ferido, abatido, doído. Talvez saíssem lágrimas de seus olhos. Talvez. Talvez Deus tivesse dúvidas. Isso abalava nossa fé. Esperávamos ouvir Deus na Rádio Globo, entrevistado pelo Danilo Bahia. Deus estava calado.


Nem era jogo tão importante, decisivo, mas a simples idéia de que Deus não estaria conosco abalava a crença. Não, não poderia ser. A Flajaú estava em ponto de bala nas arquibancadas. Todas as suas duas bandeiras tremulavam. A rota faixa, presa no gradil do anel superior. Uma imensidão de quatro ou cinco associados roia as unhas.


Um alarido transforma-se em ruído. Daí para a explosão do time entrando em campo é um flash (doce flash back nos dias atuais). Todos eles lá. Carpegiani, Zico o maior e eterno herói, ídolo supremo. O neguinho brilhante e lustroso Adílio, a muralha Cantarelli, Júlio César um louco varrido, imperador da ponta-esquerda, o Tita, Toninho, Capacete, o guarda-roupas Manguito, o príncipe Adão. Ele entra por último. Sim, ele joga ! Deus joga. E muito.


O dono da camisa 3. Deus.


O Deus da raça. Rondinelli.


"Oh meu Mengão

Eu gosto de você

Quero cantar ao mundo inteiro

A alegria de ser rubro-negro."


Amém.




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