NA TÁBUA DA BEIRADA
Eu queria era ver agoooora ! Francyelly Keylla estava voltando. Foram quase três meses de sucesso absoluto como mulher-umbu, uma natural referência às predileções sexuais do rapaz, que chamava-se Haroldo José, de acordo com seu registro natural. Foram quase três meses, como ia dizendo. Para ser mais exato, 85 dias. Um período de festa total desde que foi flagrado com um famoso jogador de futebol, em um badalado motel da zona sul. Fotos, flashes, entrevistas em programas vespertinos. Até assessoria de imprensa ele contratou.
No decorrer desse período, Francyelly/Haroldo conheceu a luz. Não imaginava – jamais pensaria – ser possível que algumas pessoas pudessem viver assim. Aquilo nunca foi luz. Holofote sim, seria a palavra adequada (valei-me São Platão, Ave Beato Saramago, Salvai-me Dom Neo, Socorro, Baudrillard !). Champanhe ? Muita. Como água de torneira. Caviar ? Fedido, porém elegante, apesar do gosto de baiacu cru (se permitem-me o quase cacófato), aliás, baiacu cru não... Fugu, como falam os japoneses (ele/ela aprendeu...). Salmon é os cacete, ainda berrou da primeira vez, o certo é salmão ! E mesmo assim, nunca vi, só ouço falar... Mas comeu. E como... E agora ?
Faxina na Caverna do Platão
Como explicar para todos no cortiço o seu sumiço ? Tinha que voltar, o dinheiro das fotos da revista, digamos, poli-sexual, havia terminado e ninguém mais pagava mich... ops, cachê para que desse entrevistas na tv: a mãe do filho do Miquijegui, nem pensar.... A fama ? Babau. Afinal oitentissinco dias fora um recorde absoluto. Tinha ouvido falar, numa vernissage (até isso, até isso...), num tal de Andiórol (remédio ?) que teria dito que a fama dura quinze minutos apenas. Ual (era assim que escrevia no messenger...) ! Sou quase um sócio do Guiness !
Voltou. E ninguém entendeu nada. Pior ainda: faziam piadinhas sobre bicha pobre e bicha rica, lembrando o Costinha. Gentalha ! Para eles, riqueza era carro mil do ano. Teve que voltar ao tanque, ao varal (em todos os sentidos) e aos prazeres comezinhos com a meninada da favela e a obrigação profissional paga no calçadão. Diziam pelas bandas do Toco Cru Pegando Fogo (nome da sub-vila na qual ficava o cortiço, no meio da grande comunidade) que ela havia se americanizado. Pediam dinheiro emprestado, assediavam, até que um dia... Esqueceram Francyelly Keylla. Escuro. Prisão. Vida porqueira... Nem havia com quem comentar...
Um dia, no calçadão, surge a Nissan. Prateada. Um touro deitado. Buzina, pi-pi. Não se alembra di eu gata ? Era ele. Ele, o jogador. Estou voltando prazeuropa, vou jogar agora no El-Elal dazarábia. Vem comigo ?
Um filósofo passava. Parou. Viu. Ouviu. Cyelly percebeu. O senhor pensa ? Cogito ergo sum. Então fala pro velho Platão que ele é um feladaputa !
Partiu no zepelim prateado.
E que Platão, Maupassant
ou Chico Buarque contem outras...
Um comentário:
hei, bacana a cronica anacrônica.
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