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07 setembro 2006

(Língua do cão - Cristiano Quintino)


POLILÍNGÜE
Minha língua pátria é presa
cercada de sanções, nações
corruptas e corruptoras.

Minha língua presa anseia a solta,
livre de imposições,
ágil e motora.

Minha língua solta é erótica:
espasmos após tensões.
Flerta, provocadora.

Minha língua erótica é ferina.
Cospe imaginações
E alguém ora: antiquelíngua fecundadora.

Minha língua ferina é frouxa.
Fala de arrebatações,
da vida viva e aterradora.

Minha língua frouxa se come
com batata, à portuguesa e com tesão;
com boca degustadora.

Minha língua multi-sabor é sempre suja
de violência e de paixão
entrega-se è outra, devoradora.

Minha língua suja disfarça-se em pê:
pêquer pêô pêcéu, pêchão.
É língua lúdica, voadora.

Minha língua do pê é feita de trapo,
que se esconde com exatidão
p’ra tocar, redentora.

Minha língua de trapo é língua de sogra:
faz festa, conselho e diversão.
Toca onde não se quer, desafiadora.

Minha língua é a língua do cão:
baba e lambe e late sem compaixão,
língua cachorra.

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