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30 setembro 2008

AINDA SOBRE DISCRIMINAÇÃO

Para corroborar o post abaixo, sobre a data das
"LEIS ANTI-ESCRAVAGISTAS" do Império,

o Quintal Literário mostra as imagens
do passeio ao cinema e repete
parte do texto anterior.


2008.

Uma escola municipal da periferia
de Belo Horizonte programa excursão
de seus alunos (entre 6 e 14 anos) para um
shopping center, classe AAA, da cidade,
a fim de assistir um filme.

Pais e responsáveis pagam - muitas vezes
com moedas contadas (a maioria com valores entre
R$ 0,05 e R$ 0,50) - à custa de muito sacrifício.

O valor de R$ 5,00 inclui o ingresso
e um pequeno lanche.

O shopping center, classe AAA,
permite que pequenos animais domésticos
acompanhem seus donos nos programas de compras.


Animais e donos freqüentam o mesmo
espaço amplo, com boa decoração, piso de granito
e tudo mais que imagina-se encontrar em um
shopping center, classe AAA.


No shopping center, classe AAA,
uma via de acesso "especial" foi preparada
para que transitassem as crianças mulatas,
mestiças, negras, todas lindas,
da cor do Brasil.


Há um portal.

Ele dá acesso ao interior do
shopping center, classe AAA.

O grande e iluminado portal da
igualdade é contornado
pela via "especial".



É que a via "especial" não possibilita
nenhum contato das crianças
com o interior do shopping center, classe AAA,
e tampouco com os usuais
freqüentadores, classe AAA
(e seus eventuais pets).


Crianças tão lindas seriam um caso
de emergência para o shopping center,
classe AAA ?


Cadê o piso de granito ?

Onde as vitrines
esmeradamente decoradas?



Glamour ?

Respeito ? Igualdade ?!?!

Saída de emergência ?
Ou de serviço ?



É que lá, no shopping center,
classe AAA,
não é lugar de Kizomba.


É claro !

Kizomba está além da classe AAA.
A Kizomba, a festa do povo negro
que resiste à escravidão, e exalta
a vida e a liberdade,
significa congregação, confraternização.

A etimologia de confraternização,
remete a frater. Do latim, irmão.
Somando-se ao radical, o prefixo e sufixo
que formam a palavra,
teremos a livre interpretação de
REUNIÃO DE IRMÃOS.

Como o shopping center foi feito
apenas para a classe AAA,
tal espaço de consumo irreal
e divertimento duvidoso, infelizmente,
passa ao largo da cultura inicial
(berço de todos os irmãos da raça humana,
que independe da cor da pele)
que, por tão generosa,

vai do Alfa ao Ômega.

Como seria maravilhoso
se a classe AAA soubesse ler.

Se soubesse apreender significados
antes de impor significantes.

Zumbi: valeu !


Aos filhos de um mesmo mundo


Guarda sua arma,
meu peito é aberto.
As suas, nas minhas mãos,
aperto, pouso certo.
Irmãos:
luta, vida, karma.

Já há paz que flui,
horizonte em revolução.
A mente irmã distribui
ternura sempre e socialização.
Desejamos e construímos:
saúde, escola e pão.
Diferenças partilhadas,
colheita que nasce do chão.

Guerreiros de Jorge querem paz;
conosco a mão de Ogum.
Junta com nosso braço e faz
força fraterna, mais um.

27 setembro 2008

DIA 28 DE SETEMBRO

LEI DO VENTRE LIVRE (1871)
LEI DO SEXAGENÁRIO (1885)

Morto, sim; escravo, não !


Olha palma, palma, palma...
Olha pé, pé, pé...
Roda, roda, roda, menina

Que veio lá da Guiné
Mas existe...


"Existe um povo que a bandeira empresta
Pra cobrir tanta infâmia e covardia"
Assim gritou a fúria do poeta
Com a dor do negro escravo que tanto sofria...
E hoje, relembrando Castro Alves
O povo desce sambando e cruza os mares
E um afro canto banto nos devolve...
A luta que nasceu com Zumbi dos Palmares

Oiá, Zumbi... bravo irmão
Deste a própria vida para não trair
Aqueles que lá no Quilombo
Palmaram teus ombros
De um congo fiel
Morto sim! Escravo não!
Canta tua memória lá da Chácara do Céu
Que a voz operária é a do Borel

Olha a palma, palma, palma...
Olha pé, pé, pé...
Roda, roda, roda, menina
Que veio lá da Guiné
Mas existe...
(Levante do Borel - Taiguara
vide mais abaixo)


Dona Ivone Lara: rainha !




O NAVIO NEGREIRO
(Tragédia no mar)


(Castro Alves)


VI

(...) Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto!...
Auriverde pendão de minha terra,

Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...


Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,

Como um íris no pélago profundo!

Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares! (...)

*


2008.


Uma escola municipal da periferia
de Belo Horizonte
programa excursão
de seus alunos (entre 6 e 14 anos) para um

shopping center, classe AAA, da cidade,
a fim de assistir um filme.


Pais e responsáveis pagam - muitas vezes

com moedas contadas (a maioria com valores entre
R$ 0,05 e R$ 0,50) - à custa de muito sacrifício.

O valor de R$ 5,00 inclui o ingresso
e um pequeno lanche.


No shopping center, classe AAA,
uma via de acesso especial
foi preparada

para receber as crianças mulatas, mestiças,
negras, todas lindas, da cor do Brasil.


A via de acesso não possibilita
nenhum contato das crianças
com o interior do shopping center, classe AAA,
e tampouco com seus usuais
freqüentadores, classe AAA.



Com a palavra, TAIGUARA.





É que lá, no shopping center,
classe AAA,

não é lugar de Kizomba.

É claro !

Kizomba está além da classe AAA.

A Kizomba, a festa do povo negro
que resiste à escravidão, e exalta
a vida e a liberdade,

significa congregação, confraternização.

A etimologia de confraternização,
remete a frater. Do latim, irmão.
Somando-se ao radical, o prefixo e sufixo

que formam a palavra,

teremos a livre interpretação de
REUNIÃO DE IRMÃOS.

Como o shopping center foi feito
apenas para a classe AAA,

tal espaço de consumo irreal
e divertimento duvidoso, infelizmente,
passa ao largo da cultura inicial

(berço de todos os irmãos da raça humana,

que independe da cor da pele)
que, por tão generosa,

vai do Alfa ao Ômega.

Como seria maravilhoso
se a classe AAA soubesse ler.

Se soubesse apreender significados
antes de impor significantes.


Zumbi: valeu !







*


*
Kizomba, a festa da raça
(Rodolpho, Jonas e Luiz Carlos da Vila)

Valeu Zumbi

O grito forte dos Palmares

Que correu terras céus e mares
Influenciando a Abolição

Zumbi, valeu

Hoje a Vila é Kizomba

É batuque, canto e dança
Jongo e Maracatu

Vem menininha pra dançar o Caxambu
Vem menininha pra dançar o Caxambu


Ô ô Nêga Mina
Anastácia não se deixou escravizar
Ô ô Clementina

O pagode é o partido popular


O sarcedote ergue a taça
Convocando toda a massa

Nesse evento que congraça
Gente de todas as raças
Numa mesma emoção

Esta Kizomba é nossa constituição

Esta Kizomba é nossa constituição

Que magia

Reza, ajeum e Orixás
Tem a força da Cultura
Tem a arte e a bravura

E um bom jogo de cintura

Faz valer seus ideais

E a beleza pura dos seus rituais

Vem a Lua de Luanda

Para iluminar a rua
Nossa sede é nossa sede
De que o Apartheid se destrua

Valeu,
Valeu Zumbi

*

22 setembro 2008

Montagem ?
Muito treinamento ?


Ou... poesia ?


19 setembro 2008

MINHA ILHA
( CARMINHA HORTA )


A MINHA ILHA FICA SEMPRE DENTRO DE MIM.

QUANDO PARTO SAUDOSA, ELA NÃO PERGUNTA SE VOU VOLTAR

FICA ME OLHANDO ATÉ O MEU BARCO SUMIR.

AS NUVENS QUE PARTIRAM NA MINHA CHEGADA,

VOLTARAM A COBRIR MINHA ILHA COM SEU MANTO CINZA,

COMO SE COMPREENDESSEM A DOR DA SAUDADE

QUE EU E ELA SENTIMOS NA HORA DE PARTIR.


SIGO MUITOS CAMINHOS, CONHEÇO OUTROS MARES

NAVEGO SEM INSPIRAÇÃO, NÃO CONSIGO REMAR CONTRA A MARÉ.

MINHA ILHA ENVOLVENTE, DE ÁGUAS TÃO QUENTES

ME EMBALA COMO UMA LINDA MULHER.

NÃO DÁ PRA VIVER SEM VOCÊ

SUAS CURVAS PERFEITAS, SUAS LINHAS EXATAS,

ME MOSTRAM SEU PERFIL DE DEUSA DOS MARES

NAS SUAS PRAIAS DE AREIAS PRIMITIVAS,

MEU CORPO DEITO, PRA RELAXAR:

ME ACHEGO PRA LÁ, PRA CÁ

E SINTO NA PELE, ALGO QUE NEM SEI EXPLICAR

CORRENDO OS OLHOS NEM SEI O QUE PRIMEIRO OLHAR:

SE SUAS PRAIAS, FLAMBOYANTS

OU SUA BRISA QUE VEM LÁ DO MAR.


POR TANTOS ISSO E AQUILO,

EU TE AMO, PAQUETÁ.



HAIKAIZINHOS BESTAS

Vontade danada
de comunicar conciso.
Sei: Matsuo baixou.
****
Ventilador preto,
antigo, de bisavó.
Um vento a ventou.
****
Nenhum homem é
uma ilha. Besteira, que
eu sou Paquetá.
****
Fred baila no ar
e um anjo de pernas tortas
diz: - joão, vem dançar !
****
Queimou soutiens;
moda com revolução.
Sobraram peitinhos.
****
Travesseiro espera
a cabeça oca, de tanto,
prum milhão de sonhos.
****

05 setembro 2008


Abraço
(Amanda)


Eu quero um abraço,
mas tem que ser abraço
sincero, abraço amigo.
Abraço família ou
abraço apaixonado.

Preciso de um abraço;
um bem forte, ou
um bem fraco. Alguém
que ame. Eu quero gritar:

- Eu quero abraço !

Agitar, beijar...

Quero chorar, esconder,
pifar.
Eu quero sumir, desaparecer,
eu quero errar.
Eu quero lutar,
tentar, vencer,

brigar.



Ponto Final ?!
(Kinha)

Um passo após o outro,
Um sorriso após um olhar.
Algo me deixou com vergonha,
Algo me fez voltar a sonhar.
Então, agora eu sigo em frente.
É assim que vai ser?
Olhando rostos e percebendo olhares,
Mas o estranho, é que nada me faz lembrar você.
Ao som de um piano,
Deixo-me ser levada pela música.
Pareço estar voando...
Eu não me importo de estar aqui, como uma louca,
Dançando sozinha.
A melodia, tão antiga,
Mas ao mesmo tempo parece ser tão nova...
Ela me leva ao alto,
Ela me faz sorrir.
Não, isso não é uma lágrima de tristeza.
Perceba:
Ela apenas indica um ponto final.
E, ao mesmo tempo,
Indica um novo inicio.

Os petiscos de Felipe
(Mão Branca)

A moçada divertia-se no bar. Chamavam cervejas, contavam causos, o mais animado era Felipe, havia finalmente comido a vizinha e contava todos os detalhes com gestos. Riam. Era o centro das atenções. Somente Kátia, a vizinha, permanecia calada.

Ele viu, escondida ao fundo, uma conhecida a quem emprestara dinheiro. Sabia que a mulher era carne de pescoço, desvencilhava-se dos compromissos, mentia e difamava para livrar-se de dívidas. Não deveria ter emprestado, mas ela o ludibriara choramingando sobre dores e privações. Era mixaria, não fazia falta, porém o que incomodava era a desfaçatez da devedora. Se não podia pagar, não deveria estar gastando com bebida.

- Oneide! – Gritou ao fim do causo, olharam para ela. – Escondida de mim? – Sorriu. Era carismático. Tinha em si a atenção do bar. Endureceu o cenho e falou ríspido. – Tá pensando que vai me dar o calote? – O clima ficou pesado, muitos silenciaram. A mulher encolheu-se ruborizada na cadeira. Felipe emendou: - Sem trote. Tem minha grana?

Ela gaguejou, respondeu coisas desconexas, tentou se justificar culpando outro alguém, sem explicar como tal pessoa poderia ser responsável, e não ela própria, pela dívida.

- Não tente me enrolar, Oneide! – Cortou Felipe. Risadas ecoaram, conheciam a mulher, uma trambiqueira imoral que se dizia desafortunada, embora possuísse imóveis e investimentos. Tinha o hábito de pegar carona para economizar o carro, de surgir nas casas alheias durante as refeições para filar as bóias, nunca pagava 10% aos garçons, se pagava a conta, pois era comum desaparecer nestas hora. – Tem meu dinheiro?

- Sim. – Balbuciou a mulher. A boca rasgada lembrava a de um baiacu seco na areia. – Vamos até minha casa, lá te darei o dinheiro.

“Ohhh”, gozaram os amigos do rapaz, aplaudindo o pagamento. Seria a primeira vez que alguém resgataria uma dívida com aquela pilantra.

- Quando eu voltar, pagarei a rodada! – Gritou o jovem. “ÊÊÊ”, responderam.

Demoraram quase duas horas. Kátia reclamou durante todo o tempo: “Cadê o Felipe?”, “que atraso”, “onde foram?”, “será que aconteceu algo?”.

Oneide apareceu na porta do bar, um saco plástico na mão e uma expressão indefinível no rosto. Depois diriam ser sadismo, ou loucura.

- O Felipe recebeu o dinheiro e voltou para casa. – Anunciou. Muitos estranharam, ele vivia no bar. – Me pediu para trazer isto. – Levantou a sacola. – São vísceras: fígado, coração... para fazer o petisco da cerveja.


“Grande Felipe”, ouviu-se. “Sempre alimentando os amigos”, murmurou outro. Levaram o saco para a cozinha, limparam e temperaram a carne. Fritaram em pedaços que serviram a todos no recinto.

- Uma delícia. – Aprovou Kátia. – Gostosa como o próprio Felipe. – Os amigos deram risadas e lamberam os beiços satisfeitos.

Durante a semana os assuntos no bar foram as vísceras de Felipe, “saborosas como o próprio”, gracejavam da namorada. Esta, contudo, andava encucada com o sumiço do rapaz.

Surgiu nas redondezas o boato que Oneide havia sido presa. Kátia foi convocada à Delegacia para prestar depoimento sobre a mulher.

– É uma pilantra. – Segredou Kátia ao policial, satisfeita por avalizar a má-conduta da mulher.. – Foi presa por dívida?

- Coisa pior. – Disse o policial. – Assassinato.

- Assassinato? – Tremeu a moça. – De quem?

- Não sabemos ao certo. – O homem consultou uns documentos. – Achamos um cadáver meio enterrado em sua casa. Morto há uma semana.

A moça sentiu vertigens.

- Uma semana?

- Sim. – O homem foi até o computador. – Ainda não fizemos o reconhecimento. – Abriu umas fotos e as examinou. – Era um rapaz. – Fez uma careta. – Foi brutal. Ela o matou com uma pancada na cabeça, depois abriu sua barriga e arrancou as vísceras.

- Vísceras? – Tremulou Kátia.

- Sim, ainda não as encontramos.

A moça esforçou-se para falar. Uma golfada de vômito prendia-se em sua garganta. A voz saiu fina, embargada.

- “Saborosas como o próprio Felipe”.