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10 novembro 2006

O mijador noturno e as velhas do condomínio

(Mão Branca)

Ele morava sozinho, trabalhava até tarde e quando voltava para casa gostava de beber uma ou duas doses de cachaça, coisa fina, de Salinas, antes de dormir. Chapava o sono dos justos até as duas da manhã, quando, incondicionalmente, levantava noctâmbulo para fazer xixi.

Colocava o bingulim para fora e jorrava a cachoeira. Chhhh. A média era de quarenta e sete segundo. Quanto mais bebia, mais mijava.

Numa reunião do condomínio, as velhas do edifício se revoltaram.

- Não é possível. – Gritou dona Jô. – Precisamos punir esse miserável. Toda noite acordo com o barulho daquele homem horroroso urinando como um cavalo.

- É isso mesmo. – Concordaram outras sete senhoras. De onde surgiu tanta velha?

- Devemos impor a lei do silêncio noturno, - Dona Jô, a líder - proibindo urinadas barulhentas.

- E os peidinhos também. – Completou dona Tereza, que chegara agora e já tomava parte. As outras senhoras a olharam envergonhadas. – Ele solta uns peidinhos apertados durante o xixi. Prá, parará.

- Certo. – Contornou dona Jô. – A lei do silêncio abrange flatos repetidos.

- E peidinhos. – Lembrou dona Tereza.

- E peidinhos. – Assentiu a líder. – Vamos votar?

O homem leu no elevador a Ata: “Por sugestão das comissão das senhoras do Condomínio, foi votado e acordado que, após as dez horas da noite, toda urinada masculina deverá ser realizada sem barulho. As senhoras sugeriram que os homens, principalmente o do apartamento 505 – ele próprio – façam suas necessidades sentados no vaso sanitário” . Quase caiu para trás de susto e, recuperado, apoiou-se para rir do absurdo daquela convenção.

Bebeu o de sempre e foi dormir, mas preocupado em não fazer barulho quando acordasse para urinar. Sempre tivera esse hábito, levantava da cama e procurava o vaso sanitário de olhos fechados para soltar a urina. A única coisa que fazia conscientemente era tentar manter o jato no meio da água para ter certeza que não estava errando o alvo. Daí vinha o barulho.

Agora, as senhoras do condomínio queriam que ele parasse de mijar em pé para resignar-se sentado como uma dama. Jamais. Só mijava sentado quando evacuava.

Às duas, levantou-se, foi ao banheiro, soltou o xixi e respirou fundo, aliviado. Só então se lembrou das velhinhas do condomínio. Ela deviam estar com os ouvidos colados aos vitrôs de seus banheiros para ver se a ordem seria obedecida. Achou engraçado e soltou uma leve risada.

No dia seguinte, logo cedo, dona Tereza aprontou o maior escarcéu na casa do síndico.

- Ele riu. Gargalhou. – Falou exaltada. – O mijador está caçoando de nós.

- Isso mesmo. – Dona Jô foi a segunda a aparecer. – Está nos achincalhando.

Antes que as outras sete senhoras aparecessem, o síndico resolveu conversar com o morador do 505. Foi ao seu apartamento e relatou a situação.

- Desculpe-me, – Explicou o homem. – mas não consigo controlar. Quando vejo, já estou mijando.

- Então mije sentado! – Pediu o síndico.

- Mije você, oras. – Respondeu de bate-pronto. Fechou a porta, ofendido.

De noite, bebeu mais que o costume pois ficou chateado com a história. Que audácia! Com que autoridade queriam definir sua maneira de mijar? Enquanto remoia sua irritação, mandava a cachaça para dentro.

Acordou, como de costume, às duas. Foi trôpego para a privada mas não mijou, vomitou até as tripas. Arrotos entrecortavam o fluxo de bebida mal-digerida que escorria da garganta. Gemeu como um bebê durante o processo e acabou abraçado à privada até de manhã.

A campainha tocou. Arrastou-se até a porta. Ele sabia que era alguma das velhas, aquelas bruxas. A dor de cabeça da ressaca parecia rachar seu crânio. O sala girava enquanto ele tentava destrancar a porta. Pelo mal-estar que sentia, tinha certeza que não agüentaria mais desaforos e mandaria todos para os quintos dos infernos.

Era a dona Tereza. Com olhar de reprovação, trazia às mãos uma xícara coberta por um lenço.

- Veja você, em que estado se encontra. – Entrou pelo apartamento empurrando o combalido homem ao sofá. – Descanse. Beba isso. – Destampou a xícara. – É chá de boldo.

O homem bebeu um gole. Não entendia bem o que acontecia, mas sentiu-se melhor com o líquido quente.

- Está com dor de cabeça? – Perguntou dona Tereza, voltando da cozinha com um grande copo de água e uma novalgina. – Engula, encoste a cabeça e durma um pouco. – Antes de sair olhou para trás para conferir se tudo estava bem. – A ressaca vai passar.

O homem tirou uma soneca. Acordou com dona Jô o observando.

- Finalmente. – Sumiu pela cozinha e voltou com pães fumegantes numa cesta. – Coma o miolo, para limpar o estômago.

Naquela noite o homem não bebeu mas acordou às duas horas como de hábito. Foi ao banheiro, sonâmbulo. Puxou o pênis para fora e, de súbito, acordou por completo. Sentou-se no vaso sanitário e fez o serviço. Apagou a luz e voltou para a cama, sentindo-se muito bem.

- Boa noite. – Ele sonhou que ouviu saindo do vitrô de seu banheiro antes de dormir